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Pequeno Ensaio de um Poeta em Construção

Rogério Noia da Cruz, filho de Abílio Gomes da Cruz e Irene Noia da Cruz, ambos alagoanos, nasceu em São Paulo no dia 09 de outubro de 1.963, na Maternidade Cruzada Pró- Infância, hoje Hospital e Maternidade Pérola Byington.

O nascimento na cidade de São Paulo deu-se por conta dos seus avôs maternos morarem nesta cidade e assim poderem dar uma maior assistência à sua mãe e a ele antes e após o parto, posto que seus pais morassem na pequena cidade de Água Branca, interior de Alagoas.

Após o nascimento, já no mês de novembro, seus pais, agora com o rebento, voltaram para sua cidade natal, onde o infante viveria até os cinco anos de idade. Nesse período da infância Rogério teve largo contato com o povo de Alagoas, pois sendo sua mãe cabeleireira, a casa estava sempre com muitas pessoas. Um pouco mais crescido, por volta dos três anos, começou seu processo de alfabetização em casa, com os pais que, apesar de poucos estudos, foram lhe ensinando a ler e escrever.

Sua infância pobre, porém muito feliz, passava-se entre o aprendizado das letras, mais com a mãe; e com os passeios pela roça, com seu pai, agricultor de subsistência, tocador de sanfona e contador de causos, nas horas vagas.

Nos dias de feira livre, que aconteciam uma vez por semana, surgiam na cidade vários poetas e cantadores, repentistas que usavam os versos cantados para duelarem em disputa pela melhor eloquência ou contar as estórias que escreviam nos cordéis dependurados. Era comum o desespero de sua mãe nesses dias de feira; o pequeno sumia por entre as barracas dos feirantes e os transeuntes para ir ouvir os poetas com suas cantorias. Assim foi surgindo sua veia poética que mais tarde vingaria não só em seus primeiros versos de improviso, mas em versos trabalhados com a mistura da vivência, do conhecimento, da inquietude e da busca pelo novo.

No ano de 1.968 sua família decide-se por morar em São Paulo, onde compraram, por intermédio dos seus avôs, um terreno na periferia da cidade. Tudo era novo ao menino que, apesar de ter nascido naquela cidade, sua vivência sertaneja deslumbrava-se com uma nova realidade. As ruas descalças da periferia convidavam-no às brincadeiras, às estripulias de garoto; ao tempo em que também haviam os passeios para o centro, nos velhos coletivos que serviam sem regularidade a vila em formação. E eram nesses passeios que observava a beleza concreta e cinzenta da metrópole em constante agitação sob o frio intenso e a garoa.

Nessa miscigenação cultural e nessa diversidade de realidades, entre as lembranças do agreste e o frenesi da capital paulista, crescia o poeta, ainda em formação, buscando, ininterruptamente, algo que não sabia: sua incessante busca pela poesia que agitava seu ser sem ainda saber como expandir-se.

Em 1.970 iniciou no primeiro ano do grupo escolar e foi também neste ano, nas férias de dezembro, ao lado da mãe, do irmão mais velho, Edvaldo e do irmão caçula, César, que pode retornar à cidade de Água Branca, rever a terra que também achava sua tanto como agora achava São Paulo.

A vida passava entre estudos, brincadeiras e uma pequena ajuda à mãe, nos cuidados com o irmão pequeno e nos afazeres da pequena quitanda que o pai montara para ajudar no orçamento, visto que o salário de metalúrgico não supria todas as necessidades da família; tudo lhe parecia bom nesses tempos: a escola, os novos colegas, a primeira paixão, a felicidade de achar-se útil ao trocar a fralda ou dar a papinha ao irmão mais novo; os elogios pelas freguesas da quitanda quando declamava uma ou outra quadrilha com rimas singelas e também já com um punhado de malícia. Não esperava que viesse um período de restrição com a vida devido à febre reumática que o abateu e o impossibilitou de quase todos seus afazeres, inclusive as idas à escola.

O tratamento da doença foi mais prolongado que o normal, devido sua alergia à penicilina; o repouso absoluto o absteve dos estudos na escola; traziam-lhe, os colegas, as lições e só ia à escola nos dias de prova, mesmo assim levado ao colo. Após um ano, o estudo presencial no grupo escolar foi liberado, porém as aulas de educação física, brincadeiras no recreio ou após as aulas estavam totalmente proibidas. Esse fato acabou por lhe trazer entretenimento através dos livros; nesse período, que foi até 1.975, pode ler grandes obras da literatura brasileira, como “O Pagador de Promessas”, de Dias Gomes; a trilogia “Menino de Engenho”, “Doidinho” e “Banguê”, de José Lins do Rego; “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, entre muitos outros. Isso veio a contribuir de forma positiva na sua formação poética e pessoal.

Em 1.978, ainda com uma série de recomendações para poder exercer atividades físicas, abandonou totalmente as orientações médicas e passou a ter uma vida intensa. Nesse período começou a frequentar a boemia paulistana e conheceu vários poetas, compositores, músicos e diversos outros artistas, em particular o poeta e amigo, até os dias de hoje, Pedro Paulo Zavagli, que o levou ao ateliê do artista plástico Alderico de Freitas, onde, às quintas feiras, havia saraus musicais onde se reuniam artistas e intelectuais consagrados como Paulo Vanzolini, Jorge Costa, Nélson Cavaquinho, Carlinhos Vergueiros, Waldir da Fonseca e muitos outros com quem o poeta passou a conviver.

Em 1.982 Rogério Noia mudou-se para Paranaguá, para trabalhar como técnico de controle de qualidade na fabricação de plataformas marítimas; no entanto a solidão e a saudade da noite o trouxeram de volta para a capital paulista.

Voltou com todo o entusiasmo que a juventude traz; lançou seu primeiro livro de poesia (“Fato – Ato Feito”, 1.982); entrou na Faculdade de Letras da PUC; fundou e presidiu por quatro anos o Grupo Artístico e Cultural Vinicius de Moraes, onde produziu e participou de cinco Antologias Poéticas (1.983/84/85/86 e 87) em parceria com o SESC-SP, C.A. de Letras da PUC-SP e União Brasileira de Escritores; passou a ter intensa atividade sócio política com o movimento da Juventude Socialista e Partido Comunista do Brasil, na época na clandestinidade; lançou seu segundo livro (“Círculo Contínuo”, 1.983); participou ainda nesse período de vários shows em bares e teatros, declamando seus poemas repletos de paixão romântica e política, divulgando as diversas faces da sua obra.

Casou-se com Ananízia da Silva em 1.986, mudando-se em seguida para Maceió, Alagoas, onde permaneceu por um ano, retornando a São Paulo, onde passa a dedicar-se ao comércio de produtos químicos.

Entre os anos de 1.987 e 2.003 ficou praticamente afastado da literatura, lançando apenas um livro (“Poeta e Poesia”, 1.990), mesmo ano em que falece Ananízia da Silva. Em 1.992 passa a viver maritalmente com Maria Cândida Lopes, com quem teve sua única filha, Talita Lopes da Cruz em 1.992.

A atividade comercial foi deixando o poeta impaciente e melancólico; sentia falta da poesia que continuava a habitá-lo; porém, devido à nova condição de vida, mantinha-a presa, acorrentada em sua alma.

Montou o bar “Cervejaria Tradição” no bairro de Pinheiros em 1.994, onde havia semanalmente shows de MPB, na tentativa de obter sustento e ao mesmo tempo estar ligado à boemia e ao meio artístico e intelectual; a empreitada, apesar dos esforços de amigos, como o sambista e compositor Zé Kéti, Carmen Queiroz, Inezita Barroso, Filó Machado e muitos outros que iam para fazer espetáculos ou só mesmo para dar uma canja na madrugada, não deu certo e mais uma vez a saída foi continuar no comércio de produtos químicos.

Só em 1.998, quando rompe o relacionamento com sua companheira Maria Cândida é que Rogério Noia recomeça suas atividades artísticas, de forma lenta, mas que, gradualmente, vai tomando força e amplitude, criando poemas, contos e músicas; fazendo shows e atuando como produtor e diretor artístico em espetáculos seus e de outros artistas.

Nessa fase, extremamente produtiva, o poeta teve seus poemas musicados por Paulo Muniz, com parceria de Pedro Paulo Zavagli, resultando no CD “Banana Creola”, onde assina nove das onze faixas; lançou os livros “Vida Versada em Samba e Soneto”, 2.003 e “Girassol”, 2.007 e o CD “Pequeno Ensaio de um Poeta em Construção”, 2.010, com direção musical de Sérgio Turcão e participação de Dominguinhos, Eduardo Gudin, Renato Teixeira, Carmen Queiroz, Dona Inah, Ibys Maceioh, Pedro Paulo Zavagli (Spiga), Marcelo Vidal (Teroca), Silvinho Mazzucca, entre outros.

Participou, em 2.011, do CD “fulanos, beltranos, sicranos” da cantora Sandra Nunes, compondo uma das faixas, a de número doze, com o samba “Poeta das Vilas”, em homenagem ao poeta Araraquarense José Roberto Tellaroli, samba esse que deu origem ao Projeto “Poeta das Vilas”, que foi executado em agosto de 2.013, com lançamento de CD com mesmo título, exposição e show em homenagem ao sambista da Vila Xavier, tendo sido Rogério Noia o idealizador e produtor do evento. Essa ligação do poeta R.N.C. com Araraquara vem de muito tempo; após conhecer o poeta araraquarense Pedro Paulo Zavagli (Spiga) em 1.978, Noia passou a freqüentar a cidade frequentemente nesses últimos trinta e seis anos, criando grandes amigos e parceiros na Morada do Sol, como a cantora Silvinha Haddad; o compositor e parceiro Teroca; o jornalista e escritor José Magdalena; o jornalista Luís Zakaib, com quem viajou para Cuba em companhia do mestre Osvaldinho da Cuíca, participando do documentário “A Revolução da Cuíca”; o pessoal da Nippo; da Vila Xavier, tantos quem dá para enumerar.

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